Exposição Olhar Gravado

Artista: Luiz Dolino

Texto de Leonel Kaz
25 a 29 de Julho | 2023

— Será que fui atrevido?, perguntou-me Dolino, à porta de sua casa-atelier em Petrópolis.

Logo que voltei ao Rio, fui ao dicionário: atrever-se vem do latim e significa “achar-se capaz de algo, destinar-se a algo”. 

Curioso o destino deste homem, entre a arte e a matemática econômica, sustentado pelas frestas e arestas do geometrismo – onde ele poliu sua alma e seu destino de artista.

Sim, Dolino, você é um atrevido! Morou e expôs de ceca a meca em países da América Latina e viveu até em Costa do Marfim. Você me contou, ao lado de Ismélia, da festa de cores nas vestimentas de quem vai a um funeral em Abdijan. Celebra-se ali um destino, certo? De certa forma, a vida, colorida, virada ao avesso.  Afinal, virar ao avesso a vida não é a função da vida e da morte em sua dupla face: a arte?

Ainda em tua casa, você já havia apontado um elenco de gravuras propondo que elas pudessem ser montadas de trás para diante, de baixo para cima, em qualquer ordem… Achei delicioso porque, afinal, tudo o que é pode não ser, nessa mágica combinatória de todas as coisas – como as crianças nos ensinam.

Tudo pode combinar com tudo, independente de critérios, ordenamento, hierarquias. Daí, tua obra, sempre, interminável. Por que? Ora, a ordem de teus geometrismos pressupõe a desordem do olhar de quem a vê.

Esta a experiência que você propõe a quem contempla tuas pinturas ou gravuras: que cada qual que reinvente, a partir de teus geometrismos, o modo de ver as coisas. Que cada qual seja… atrevido em seu estar no mundo!

Leonel Kaz