CARLOS MUNIZ - O OLHAR ABSTRATO


Carlos Muniz nasceu em Montes Claros, Minas Gerais. Formado em Medicina e especializado em cirúrgica plástica, inicia a sua trajetória artística no início da década de setenta. Participa de vários salões e exposições, estabelecendo uma fusão entre a sua vida cotidiana e profissional. As questões do território da pintura irão delinear seus novos percursos, presentificando a prática dos cortes e das incisões oriundas do exercício de sua profissão, que impulsiona a dinâmica da gestualidade nos seus trabalhos visuais.

Foi conterrâneo do artista Raymundo Colares, que trouxe uma nova plasticidade para o cenário da arte contemporânea brasileira, através de um saber vivenciado nas fertéis vertentes do legado construtivista. Os trabalhos de Carlos Muniz revelam os resultados do convívio intelectual e artístico com Colares, ambos tributários das tradições artísticas que passaram pelos experimentos construtivistas. Teve forte influência da problematização do abstracionismo geométrico através da apreensão do pensamento de Max Bill, Piet Mondrian, que estavam em pauta, assim como as obras de Alfredo Volpi, Luiz Sacilotto, Amilcar de Castro e de seus parceiros Manfredo de Souza Neto, Ronaldo do Rego Macedo, Luiz Dolino, entre outros.

As suas primeiras telas foram inspiradas nas naturezas mortas, nas paisagens figurativas e nas montanhas do interior mineiro. Começou a trilhar o vocabulário da linguagem geométrica e seu trabalho reflete o caos e as dissonâncias da vida urbana contemporânea, a partir da apropriação de elementos como as pistas, placas e sinalizações de trânsito, articulando as modernizações na sua cidade mineira, anteriormente bucólica.
Esses trabalhos trazem o uso de formas irregulares, elementos de uma geografia urbana e sinalizações das estradas como componentes visuais, que derivam de um circuito paralelo e revelam a vibração, o desejo de expandir os seus componentes pictóricos e a supressão dos elementos da natureza. Suas pinceladas exaltam o movimento e as cores vibrantes, ritmadas em camadas planas de tinta. Passa a despojar a pintura de seus elementos figurativos e dos resíduos da fragmentação que invocam as aparências visíveis do mundo, para reduzi-las a um vocabulário vinculado à uma abstração geométrica e às sensações colorantes, criando um solo fértil para a adoção de novos princípios estéticos.

O deslocamento do seu campo visual começa a ser alterado através de um fluxo de questões de ordem estética, que brotam de um repertório de cores e de uma linguagem geométrica, que passam a pontuar o seu processo criativo. A dinâmica de linhas horizontais ou verticais passam a tensionar a superfície da tela e estão presentes como elemento estruturante na organização de suas obras, assim como as fendas imprecisas, mas que resguardam uma unidade que os cortes a princípio teriam desfeito. Linhas retas, diagonais, onduladas ou sinuosas, são os elementos ativadores da sua prática artística. Provocam deslocamentos imprevistos pela fluidez de seus gestos e ao mesmo tempo, repetem um repertório de cores e formas, dispostas agora através de um jogo de derivações geométricas e saturações cromáticas, que mantém a ordem e evita o caos.

Carlos Muniz compõe a sua nova gramática visual no zigue-zague dos padrões anunciados pela geometria e pelas vibrações cromáticas. Passamos a observar o mundo através desses exercícios geométricos coloridos e abstratos, que trazem uma nova irradiação do seu olhar. A pintura e suas infinitas possibilidades se imbricam no amplo leque de experimentações que caracteriza a arte contemporânea. Uma geometria transitiva sempre antecedeu as suas pinturas, seja na elaboração do quadrado, do círculo ou do triângulo, repletos de um forte cromatismo, seja pela evidência de segmentos desiguais que revelam um acento existencial e trazem à tona as assimetrias do mundo, o que contribui efetivamente para o florescimento de seu pensamento visual.

CURADORIA DE VANDA KLABIN
GALERIA PATRICIA COSTA – RJ – 2024

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