A exposição “Inserções” nos revela a produção dos últimos anos da obra de Adriano Mangiavacchi. Nascido em Roma, aprendeu cedo a desenhar a cidade. Após estudos de pintura na Academia de Brera, em Milão, transfere-se para o Brasil onde encontra a exuberância da paisagem e suas cores tropicais. A partir da década de 1980, construiu sua obra a partir da observação da plasticidade do espaço urbano, seus muros e paredes corroídos pelo tempo.
Segundo Adriano, é a partir das aulas com Luiz Áquila, com quem aprende a liberdade do gesto, o envolvimento com o grande formato e a força das cores, que decide armar-se de coragem e mergulhar em seu projeto pessoal de “fazer paisagem”. Deixa de lado os tons terrosos, tão presentes na arte italiana para lançar-se na permanência dos azuis e verdes, e na vibração de laranjas e amarelos da paisagem tropical. Como tantos pintores italianos que aqui se estabeleceram, Adriano constrói sua narrativa a partir da observação da paisagem. Seleciona, fotografa, usa recursos da gravura e produz imagens que juntas engendram uma nova cena, iluminada por uma ampla paleta de cores.
O sensorialismo presente na obra de Adriano está ligado a correntes artísticas que nos anos sessenta criaram uma nova ordem. Forma, fundo e cor passaram a ser tratados com o mesmo nível de importância e o quadro passou a ser não apenas um suporte mas um campo de experimentação. Além do minimalismo norte americano que reagiu aos excessos do expressionismo abstrato e navegou entre o formalismo e o informalismo, o movimento póvera surgido no mesmo período, a partir da atuação de artistas italianos, aproximou ainda mais o artista da investigação, tornando mais evidente o caráter empírico e especulativo da obra. Para Germano Celant, crítico que cunhou o termo arte póvera, essa forma de arte deveria estar liberta de toda superestrutura histórica e simbólica. Mais do que trabalhar sobre princípios, esse novo artista-alquimista precisava descobrir as raízes das coisas, participar de acontecimentos naturais para descobrir-se a si mesmo, seu corpo, sua memória, seus gestos, suas emoções e tudo que decorresse de seus sentidos.
A construção das telas de Adriano, organizadas com precisão a partir de pequenos quadros de menor porte, nos revela um obstinado trabalho de criação onde o gesto generoso do artista transborda, expandindo e tomando a superfície. Há aqui um certo olhar pop a nos levar para os limites da percepção, um Blow up controverso, como um filme de Antonioni.
A fotografia surge então como importante ferramenta na construção de uma linguagem própria onde contornos de horizontes e vestígios de vegetação justapõem-se em um fascinante jogo de cores e formas. Adriano não teme as cores. Vale-se delas com grande liberdade e lirismo, das mais quentes às mais frias. As telas aqui expostas provocam a imaginação, esgarça os sentidos e arrebata sensações.
Adriano é artista de sensibilidade extrema e de profundo senso estético. Habitante de uma das metrópoles mais retratadas do mundo depois de Paris, apropria-se da paisagem do Rio como um observador assíduo e apaixonado por seu objeto de desejo.